quinta-feira, 19 de março de 2009

Reguladores Africanos Pressionados a Exigir Melhor Qualidade

Os reguladores do mercado das telecomunicações de África deviam impedir os operadores de telemóveis de aumentar as suas bases de assinantes enquanto as redes sobre as quais operam não forem melhoradas para conseguirem suportar ainda mais clientes, defendeu esta semana a Africa Telecommunications Union (ATU).
Muitos países africanos têm operadores que vão aumentando as suas bases de assinantes sem se preocupar em previamente actualizar e melhorar as suas redes, o que acaba por resultar numa elevada percentagem de quebras de ligação e numa fraca qualidade de serviço, afirma Akossi Akossi, secretário-geral da Africa Telecommunications Union.
"Se os reguladores do mercado forçassem os operadores a assinar acordos que prevêem níveis de serviço adequados, a situação que se vive hoje em África seria muito diferente. Assim os operadores continuam apenas a preocupar-se em angariar cada vez mais clientes, sem investir no melhoramento das suas redes", diz o mesmo responsável.
Akossi deu o exemplo da Comissão de Comunicações do Quénia (CCK), que publicou recentemente uma directiva que ameaça retirar as licenças aos quatro operadores móveis do país se estes não melhorarem a qualidade das chamadas realizadas sobre as suas redes para uma taxa de sucesso de 90 por cento, tendo ainda que reduzir em dois por cento o volume de chamadas perdidas e diminuir para 10 por cento a taxa de chamadas bloqueadas.
A directiva dá à Zain, Safaricom, Orange e Econet Wireless até três anos para melhorarem os seus serviços, caso contrário perdem as licenças para operar no Quénia. Na notificação que apresentou aos operadores e que foi publicada pelo jornal Kenya Gazette, a CCK afirma que pretende acabar com os operadores errantes que oferecem serviços de baixa qualidade, em que o congestionamento das redes, as taxas reduzidas de chamadas bem sucedidas e a fraca qualidade da voz são uma constante, mesmo em áreas urbana.
"Outros países deveriam seguir o exemplo da Nigéria e do Gana, que impedem os operadores de continuar a vender cartões SIM a menos que demonstrem que as suas redes conseguem suportar clientes adicionais. Esta é a única forma de garantir a qualidade do serviço prestado", diz o secretário-geral da Africa Telecommunications Union.
James Rege, presidente da Comissão Parlamentar de Energia e Comunicações do Quénia, é peremptório a afirmar que "a CCK é demasiado lenta. Esta directiva devia ter sido implementada há já muito tempo atrás".
Na sua opinião, "os operadores não devem ser autorizados a comprometer a qualidade das redes em benefício dos seus próprios lucros. Poder fazer chamadas baratas não deve significar o acesso a um serviço de fraca qualidade", sustenta.
No ano passado, o governo do Ruanda multou o operador continental MTN pela fraca qualidade de serviço que oferecia. No Uganda, a MTN foi também forçada a reembolsar os clientes por disponibilizar serviços sem qualidade.
Para responder a estes desafios e aumentar a sua base de assinantes, a MTN comprometeu-se a investir 800 milhões de dólares no melhoramento e expansão das suas redes no Sul e Leste de África, conta Yvonne Manzi Makolo, responsável pelo marketing e vendas do operador.
No Ruanda, onde o regulador é mais severo, a MTN Rwanda teve que investir 70 milhões de dólares na sua rede e criar 311 novas estações base. A MTN Uganda já investiu nos últimos três anos 300 milhões de dólares na qualidade das suas redes e no aumento da respectiva capacidade.
"Apesar destes investimentos, continuámos a ter problemas como a inactividade causada por falhas de energia e roubos ou danos na nossa rede de fibra, que ocorrem sobretudo durante a construção. Por isso, a companhia tem investido em soluções de backup para proteger a rede de fibra e redireccionar as chamadas em caso de falha na rede", afirma Yvonne Manzi Makolo.
Segundo esta responsável, para garantir que não volta a ter problemas com os consumidores e com o regulador, a MTN pretende continuar a investir no melhoramento dos serviços de voz e na diminuição das interferências nas suas redes.
No entanto, o secretário-geral da Africa Telecommunications Union acredita que "dado o ritmo de crescimento dos telemóveis em África, os operadores estão a investir muito nas suas redes, mas esse investimento é ainda reduzido comparativamente com o do número de assinantes”.

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